por Filipe Celeti
Na Bunker Editorial, educação e liberdade são temas centrais. Este blog, mais do que fornecer respostas prontas, quer convidar você a fazer as perguntas certas. Afinal, o pensamento crítico nasce da dúvida e é ela que nos leva a compreender o mundo em que vivemos.
Pais e educadores enfrentam desafios cada vez maiores no cenário educacional atual. Em um mundo de mudanças rápidas e novas ideias, como podemos garantir que nossos filhos se tornem adultos autônomos e pensantes? O bombardeio constante de novas ideias e práticas torna a tarefa de educar um desafio quase impossível. Muitas vezes, não temos tempo para refletir e distinguir o que realmente funciona do que é apenas uma tendência passageira. Outro grande problema são antigas ideias e práticas que tomam uma roupagem diferente para se vender como novas.
Quando olhamos para nossa realidade educacional, percebemos que a educação se desviou de seu propósito. "O propósito da educação é preparar os jovens para a vida adulta como seres humanos independentes", como afirmou Jerry Kirkpatrick. Mas o que seria independência? Independência vai além de prover necessidades básicas; envolve juízo independente, avaliação direta dos fatos e ações sem influência externa. Requer conhecimento, raciocínio lógico, integridade e coragem para agir com base em conclusões objetivas, sem depender da aprovação de outros. Se isto não for aprendido na infância, muito dificilmente será aprendido na vida adulta.
Pensar e agir com inteligência, integridade e coragem não é automático e sem falhas. Crianças e adolescentes devem ser ensinados e ter liberdade para errar, sem punição ou interferência autoritária de pais ou professores. Imagine seu filho enfrentando um problema difícil, sem a interferência imediata de um adulto. A capacidade de refletir, errar e aprender sozinho fortalece sua confiança e o prepara para os desafios da vida adulta. A educação ideal promove liberdade no lar, na escola e na sociedade, permitindo que, como adultos, eles aprendam com seus erros e busquem seus próprios valores no mercado de ideias e bens.
Quando pensamos em liberdade, muitos liberais e libertários acreditam que, em um sistema capitalista, a educação tradicional seria a regra. Mas será que isso realmente faz sentido? Ao olharmos para a educação tradicional há elementos que não estão alinhados com a defesa da liberdade. Acabam por submeter as crianças às vontades dos adultos. Tal coerção não mataria a criatividade e energia da nova geração?
É por este motivo que vale conhecer autores que não estão dentro do espectro conservador. Montessori, por exemplo, ensina que a independência das crianças é desenvolvida por meio de "trabalho" focado e repetitivo. Esse trabalho, mesmo que pareça simples, como encher e esvaziar um carrinho de mão, tem um objetivo maior: o crescimento interno da criança. Ao realizar tarefas com concentração, a criança não busca apenas completar uma atividade, mas, sobretudo, descobrir que é capaz de fazê-la sozinha. Esse processo fortalece sua autoconfiança e senso de autonomia. A verdadeira educação, segundo Montessori, é aquela que apoia o desenvolvimento da independência e celebra cada conquista nesse caminho.
Para estimular a independência nos filhos, os pais devem permitir que eles explorem livremente seus interesses e aprendam a tomar decisões por si mesmos, sem interrupções constantes. Evitar impor suas próprias vontades sobre os desejos da criança é crucial para que ela desenvolva autoestima e confiança. Pais devem encorajar o aprendizado pela experiência, permitindo que os filhos lidem com desafios e emoções, e evitando repressões emocionais. O apoio deve ser focado em cuidar e orientar, não controlar, garantindo que as crianças se sintam capazes de identificar e perseguir seus próprios objetivos. Ao final deste texto deixamos uma lista de dicas para aplicar em casa e na escola!
A independência, tanto mental quanto comportamental, é crucial para a maturidade e a autonomia. Independência mental significa pensar por conta própria, sem simplesmente memorizar ou imitar o que os outros dizem. Já a independência comportamental é agir de acordo com o que se acredita ser correto, mesmo diante da oposição ou desaprovação.
Não faz sentido criticar uma pedagogia permissiva que não ensina e acabar defendendo ou reforçando a exigência de obediência que muitas vezes, pais, professores e a sociedade em geral impõem, limitando o desenvolvimento dessa independência. Espera-se que os jovens sejam independentes, como por exemplo, quando resistem às expectativas de carreira dos pais ou quando questionam dogmas amplamente aceitos, como o impacto econômico da reciclagem.
Também é preciso pontuar o funcionamento do sistema educacional. O mecanismo é feito para dificultar o julgamento independente. A conformidade é frequentemente recompensada com notas e diplomas, enquanto a independência é penalizada. Nossas escolas reforçam a obediência servil, premiando quem se adequa aos caprichos do adulto que detém o poder, ou incentivam o contraditório? Em nossas casas, o ambiente autoritário é construído para haver concordância sem questionamentos?
Este é um dos principais pontos defendidos por Jerry Kirkpatrick em Educação para uma Sociedade Livre, onde ele une as filosofias de Dewey, Montessori, Mises e Rand em uma abordagem única e poderosa sobre como criar uma educação que valorize a independência e o pensamento crítico. "Como prover educação de massa, aprofundada e econômica, capaz de cultivar as diferenças individuais e produzir independência?" De acordo com ele, o aprendizado centrado na criança, foco da educação progressista, valoriza a individualidade em vez de priorizar a matéria ou o professor. No entanto, a educação progressista falhou em equilibrar a valorização das diferenças individuais com a oferta de um aprendizado aprofundado. Ao longo da história recente, educadores oscilaram entre a padronização dos métodos (tradicionalistas) e a personalização para cada criança. O desafio está em combinar esses dois aspectos.
Para formar filhos autônomos, os pais e educadores devem se perguntar constantemente: estamos permitindo que as crianças explorem seus interesses, aprendam com seus erros e se desenvolvam como indivíduos independentes? O verdadeiro aprendizado ocorre quando oferecemos liberdade, mas também suporte, criando um ambiente onde a criança se sinta segura para experimentar, errar e crescer. Mais do que nunca, a educação para uma sociedade livre exige coragem e disposição para questionar o status quo, adotando práticas que respeitem o processo de amadurecimento e independência dos jovens.
Como estimular a independência de crianças e adolescentes no lar e na escola?
Exploração de Interesses
- Casa: Dê liberdade para explorar hobbies e interesses próprios.
- Escola: Ofereça atividades extracurriculares e escolha livre.
Decisões e Autonomia
- Casa: Permita escolhas simples (roupas, refeições, horários).
- Escola: Dê opções em projetos e temas de estudo.
Erros como Aprendizado
- Casa: Use erros como oportunidades de reflexão.
- Escola: Incentive revisão e aprendizado com base nos erros.
Orientação, Não Controle
- Casa: Faça perguntas que incentivem a reflexão.
- Escola: Professores como mentores, não figuras autoritárias.
Valorização da Autoestima
- Casa: Celebre pequenas conquistas e evite comparações.
- Escola: Reconheça o progresso individual de cada aluno.
Lidar com Desafios e Emoções
- Casa: Ensine a lidar com frustrações e fracassos.
- Escola: Crie um ambiente seguro para expressar emoções.
Essas práticas simples, aplicadas no dia a dia, ajudarão crianças e adolescentes a desenvolverem independência, autoconfiança e habilidades para tomarem decisões de forma autônoma.
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